segunda-feira, 14 de julho de 2008

Basta !

Chega! Já é altura de por os pontos nos is!

Não sou nem nuca fui um anjinho,

Nasci assim, não fui eu que me fiz!

Foi talvez o crescente ódio

Que me acompanha desde petiz.

Foi talvez o que não sei,

Foi talvez o que não fiz.

Mas não olhem para mim como

O pobre desgraçado, o coitadinho!

Não, não fui, nem nunca serei um anjinho!

Nada reside em mim

Mais que a besta sadia!

Em sonhos vejo o fim,

Pois só sonho durante o dia.

Sonho durante o dia,

Deambulo durante a noite,

Tenho a mente gélida e fria,

E o olhar afiado como uma foice.

Sou um anjo de sangue,

Meu corpo é a cal,

Sou tão puro que à quem me demande,

Ser Deus cabeça de chacal.

E hoje sou assim!!!

Amanhã serei diferente.

E hoje dou-me em mim,

Amanhã darei-me em gente!


13:00  06/12/99

Declinio

Procuro o nexo das coisas

Mas... O que acho?

Procuro incessante,

Esse olímpico facho.

Neste mundo onde estou

Procuro, tudo aquilo que sou,

Sou mudo. Tenho a vontade de estar

Em lugares que não existem,

Nesse algo sem par,

De memórias que persistem.

Vivo em palácios de betão,

Filtros da realidade,

Os seus filhos são:

Ratos de mera nesciedade.

Que ignorância é esta

Que se abateu sobre meu o povo,

A vida deixou de ser uma festa 

Para ser um jogo!

E eu preso no vosso mundo

Sem poder para o alterar,

Vejo-vos cair cada vez mais fundo

Sem vos poder agarrar.

Vejo o mundo para as trevas a caminhar,

Eu quero, e tento, tento!

Mas não vos consigo salvar,

De um caminho tão lento

De morrer e matar.

Mas não! Vocês não querem ser salvos,

Vocês recusam-se! Preferem continuar

Ignorantes, distraídos com jogos estúpidos,

Televisão, futebois, mercados de consumo!!!

Onde chegas-te!

Onde chegas-te meu mundo!


11/99

Tudo tão igual

Que mundo tão controverso,

Nada é mau, nada é bom.

Tudo é disperso.

Não há extremos nem fantasia,

Não era este o mundo,

Não era este o mundo que eu queria.

Sento-me à espera, escrevendo.

Meu corpo gela,

E vai morrendo.

Sinto-me cada vez mais velho,

A cada segundo que passa,

Vejo tudo e não tenho nada.

A vida é uma constante desgraça.

Está frio, um vento gélido,

Meu corpo treme em abruptos espasmos,

Não sei o que tenho lido,

Não sei  nada senão sarcasmos.

Mas sei que agora meu corpo gela.


25/11/99 C.C.B.

Falsas promessas

Onde estou eu?

E quem és tu?

Que vens de lá do fundo

Com promessa de fim do mundo.

Em teus escritos prometes:

A humanidade vai acabar.

Mas acho que o que dissestes

Foi só para me enganar!

Como queres que eu viva neste mundo

Que mais parece uma bola podre em decomposição.

E mentiste-me! Tu, que vens de lá do fundo.

Como queres agora que beije teu chão?

Como queres que respeite teus filhos?

Aquele primor da criação,

Que mais parecem ratos nos ninhos

Em plena procriação.

E agora diz-me!

Como queres que respeite o que eles são?

Sim, eles! Esses puros deuses da fornicação.

Como queres que respeite eu,

Seres piores que animais,

Se o que tenho nem é meu.

Os sentimentos são fatais.

Tira-me, tira-me deste mundo tirano,

Tu que me fizeste humano, insano.

Tira-me desta horrível podridão1

Ou então, cala meu coração.


13:/30  24/11/99  Metro

Ermita

Cá estou eu

Envolto na minha solidão,

Procurando um assunto para escrever,

Sentado neste frigido chão

Sem ninguém para me aquecer.

A minha paz e perturbada

Pelos seres que passam,

E a inspiração levada

Por esses seres que grasnam!
Não vos tenho mal em consideração,

Não! Não pensem isso.

É só que vocês me cortam a inspiração

Quando dela mais preciso,

E eu aprecio tanto a minha solidão.

Sei que sou um humano sem siso,

Talvez veja demasiada televisão

E leia demasiada literatura,

Mas hei, eu sou um fanático da palavra,

Um obcecado por escritura,

E ao mesmo tempo o que agrava,

Um fanático da natura.

Juntem as flores de um Cesario

Ás maquinas de um campos,

E encontraram o itinerário,

Deste poeta entre tantos!


15:15  23/11/99

Porquê?

Tenho lutado

Na esperança de morrer um dia.

Mas sou tão fraco,

Que nem isso conseguia.

Tenho gasto todas as minhas energias,

Quer procurando  a morte nas noites,

Quer a vida nos dias.

Agora estou aqui sentado

Sentindo gelo a correr-me nas veias,

Esta um frio danado, e coisa que vejo, tão belas, tão feias.

São belas a pessoas

Enquanto maquia, ser com vida,

Mas são feias e tolas

Enquanto ser retrogrado que medita,

Enquanto ser que luta,

E escreve sobre a escrita.

Pois são esse filhos da puta

Que estragam o mundo de quem luta

Por uma vida mais bonita.

Tenho lutado, e há! Luto tanto,

Tenho chorado rios de mar e de pranto,

E para quê? Ninguém compreende o que canto,

Ninguém sabe ninguém vê!

Porque luto? Afinal,

Nada ganho por pregar

Neste palco jogral.

Porque luto?

Porque luto afinal?


12:40  22/11/99 a bordo da carreira 101

Adeus meu mundo

Veloz, veloz é o tempo

Que por mim passa

Neste instante que é a vida,

E o inconstante com que se lida.

Brutal, brutal é a sede de poder,

De se saber que se é

Mas não se pode,

De não querer comer e ter  fome.

Frágil, frágil sou eu

E tudo o que me rodeia,

Como a força da fé de um ateu,

Como mosquito preso numa teia.

Forte, forte é tudo

E eu também o sou,

Tal como quando espero

Pelo tempo que já passou.

Estou apático e dorido,

Enigmático entorpecido,

Digo adeus a tudo,

Adeus meu mundo


18/11/99

Alter ego

Não quero ser eu,

Não gosto de quem sou

Aquele puto que jazeu

Num tempo que já passou.

Que personalidade é esta

Mais forte que a vontade,

Eu quero e ela não,

Que revoltante ansiedade.

Se eu não estivesse aqui,

Se eu pude-se, se eu ousasse

Se eu conseguisse fazer sentir em ti

E a minha raiva não falhasse.

Ai! Se eu pude-se esmagar tudo,

Se eu quisesse esmagar nada.

Maldita sociedade de entrudo

Fazes m minhas veias correr lava

E lágrimas em meus olhos.

E se nada te trava,

Destruem-te os meus sonhos.


22/10/1999   16:25 h

Vazio

Que apatia é esta

Que parece não me largar?

O dormir acordado,

A brutal necessidade de não estar.

Que rumo é este

Que as coisas levam?

Para onde vão? De onde vêm?

Qual o significado do meu ser?

Serei invisível! Não me vêm?

Que dor reina no meu peito,

Que vazio me enlouquece!

Vejo tudo tão desfeito,

Sinto que tudo se desvanece!

Sou nada. Sou zero.

Neste mundo que não pára

Sei que ninguém me conhece, sou um mero

Apagador que não apaga


13/10/1999 Cais do Sodré C: 13:40 h; A: 13:50 h

Familia

Que amor é este que eu desconhecia

Mais forte que qualquer outro

O amor de uma família

Tão forte que me deixa louco.

Como pode alguém tentar

Aos outros este igualar.

Amores há muitos, família só uma,

Pedra rara e preciosa

De que tomo conhecimento

Ao desvanecer-se a bruma

Tão de densa como de perigosa.

Densa por ocultar

O maior amor da tua vida,

Uma família, que um dia podes encontrar

Total e completamente perdida.

Perigosa por que te tira

O melhor que podes ter,

Aqueles que te amam

Aconteça o que acontecer.


11/10/1999 Cais do Sodré C: 13:05 h; A: 13:25 h

Acordar

No começo era o caos,

Nada tinha forma, tudo era indefinido.

Formas mutáveis sem verdades

Que tinham o ter sem o ter tido.

Uma massa purpura de energia culminava

Com o rubro do tudo que ainda não é nada,

Com o saber embutido na lava;

A pedra brutal que é saber que ainda não se sabe.

A primeira consciência do despertar.


8/10/1999

Odivelas Casa C: 4:03 h; A: 4:30 h  manhã

A Descoberta

Tenho uma vida para estragar

E tempo para escrever,

E mesmo que ninguém me queira apreciar,

Vou continuar a viver.

Este Sol que me continua a queimar

É a prova do meu Ser,

De que não me vou entregar

À primeira que aparecer.

A vida continua

Embora eu não queira

Este destino de rua

Sentado numa cadeira.

Sou tão jovem que não me dou conta,

De quão jovem por tudo passei,

E se o destino assim mo deu,

Eu assim o reneguei.

Não consigo parar de chorar

Nem muito menos de estar triste,

Vivi antes do tempo,

Já nada em mim existe.

Sou apenas um poeta

Que só o é para passar o tempo!

Mas à quem nem isso seja.

Devia e estou grato pela minha sorte,

Tenho uma família que me dá tudo

E que lutará por mim até à morte.

Amo-os? Sim! Amo-os mais que tudo,

Para mim eles são tudo.

Se não fossem eles, eu não Era,

Se eles não Fossem, não era eu.

Se eles não existissem

Não haveria razão para viver.

Quando digo estar só, engano-me.

E … Oh meu Deus! Engano-me tanto!

Pois agora vejo quem está,

Quem está realmente só,

Quem passa os dias num banco de jardim,

De lá para cá, de cá para lá.

Estou comovido e quero chorar!

Descobri uma verdade irrefutável.

Estou comovido, já não consigo rimar.

Descobri, descobri a descoberta das coisas,

Que embora exausto, não vou esmorecer;

Que embora sedento, não me vou vingar;

Descobri!  Descobri que posso lutar.


7/10/1999 Cais do Sodré C: 16:00 h; A: 16:30 h

Ferro e carne

Sentado num jardim da 24 de julho,

À torreira do Sol

Num banco de madeira,

Vejo ferro e carne

E lembro-me dela, da ceifeira.

Que aconteceria se ela

Ceifasse a vida a toda a carne?

Coisa tão bela,

E ao mesmo tempo sem charme.

Imaginem toda esta azafama

Reduzida ao zero,

Seria tudo tão belo

E ao mesmo tempo tão fero!

Que curta espera é esta

Que parece tão longa,

Comprida como uma festa

Curta como uma pomba.

Que mundo é este que vejo

E coisas estas que sinto,

Penso saber o que ensejo

Temo saber que minto.

Quem me vê dá-me um beijo,

Quem me olha, lê-me a alma.

Se eu soubesse o porquê do desejo,

Se soubesse porque ele não se acalma.

Vejo ferro, vejo carne.

Vejo fogo, vejo alma.

Sinto a presença do ausente,

Desejava não haver gente

E não ter que o desejar,

Pois sou frio por for a

Mas por dentro quente.

Vejo miséria, talvez,

Talvez como nunca a vi

Com estes olhos que tenho hoje.

Quem sabe quem serei amanhã!

Quem sabe se em vida virá o dia

Em que deixarei de escrever,

Ou quem sabe até já fria

Não se deixe morrer.

Não sei nada e nada saberei

Enquanto procurar o saber!


7/10/1999 Cais do Sodré C:15:00 h; A: 16:00 h

Insistência

Quatro, à já quatro noites

Que tento escrever,

E enquanto penso

A tendência é para adormecer.

Mas esta é a ultima,

E por ela dentro está a acontecer,

Aquilo que faz mover um poeta

A escrever o seu viver.

Tenho as malas prontas

E a trouxa ensacada,

Tudo dentro do carro

Pronto para a jornada.

O suporte já está posto,

As bicicletas montam-se amanhã,

Antes da grande caminhada

Até à minha terra mamã.

Estou aqui no alto da serra

Com paisagens de extasiar,

Mas não consigo esquecer a minha terra

Essa Lisboa junto ao mar.

Tenho paz e liberdade

À luz da Lua e do Sol,

Mas não consigo esquecer essa cidade

De tradição, amigos e rock’n roll.

Sinto-me um antónimo de Cesario

Na pele de um Caeiro,

Quem sabe um pouco de Campos,

Quem sabe, o mundo inteiro.

Que saudades tenho de lá!

Que saudades lá terei daqui!

Ao cantar este fa

Dó, lá, na cidade onde nasci.

Por mim ficava aqui a noite inteira,

Mas tenho que madrugar ás seis

E penso que já passa da uma e meia

Portanto adeus meus reis!

O relógio está a bater as duas

Pelo que já só faltam quatro até ás seis.

Despeço-me então das minhas Luas,

E de vós, meus leitores, meus reis.


No meu quarto em Mareco

28/08/1999  C: 1:00 H; A: 2:00 h am

Estranha paz

Está tudo tão calmo em mim,

O sono a apatia

Apagam os meus sentimentos.

Em cada noite cada dia

Pago os meus dividendos.

Já foi dor, utopia,

Tudo e até magia.

Mas agora é o nada.

A minha alma está vazia

E a minha cabeça cheia,

De toda uma apatia

Emaranhada na vossa teia.

Os meus olhos fecharam-se

Estando abertos,

Compenetraram-se, absortos, rectos

Perante a vossa iniquidade,

No horizonte da vossa verticalidade.

Inocentes perante a guerra,

O ódio e a dor,

Buscando a vida,

Aquela ponte de amor.

Já não choro quando dói

Nem rio quando estou alegre,

Arrancaram-me o peito

A ferro fogo e febre.

Sou agora uma máquina

De inteligência artificial,

Produto de uma sociedade

Que a ninguém faz mal.

A fachada que todos querem,

O poder de compra como felicidade.

E que dirão eles quando perceberem

Todo o meu poder espiritual.

Nunca é tarde demais

Embora ás vezes seja.

Nem sempre, nem sempre

A vida sobeja

E tens tempo para tudo.

Fecha os olhos e morre de fome

Enquanto te alimentas de papel,

Pois eu vivo de emoções.

Esfolas-te por um farnel,

És tratado abaixo de cão,

Toda a vida vives-te em miséria

Ás ordens de um patrão,

Para alimentar aquele,

Que não respeita teu chão,

E do qual desconheces

O verdadeiro nome.

O grande chefe de uma Nação.

Vive!

Vive a eterna mocidade.

Tu que não imaginas o que é a dor

Quanto mais podes imaginar a sua ausência.

Esquece todos os teus problemas e vive,

Agarra o que eu perdi,

Tem o que eu não tive,

A felicidade, a felicidade de quem vive.


20/07/1999

Amarga candura do sonho

Não consigo mais viver de ilusões,

Sonhar que te tenho.

Se eu ao menos soubesse quem és.

Se conhecesse teu rosto, teu espelho,

Se soubesse como é a tua voz. A teus pés,

A teus pés juraria tudo o que quisesses.

Mas não, tu não existes, e eu sim.

Tantos são já os anos que te procuro

Que julgo estar a chegar a um fim,

A derrota do meu futuro

De tudo o que existia em mim.

Noite e dia imagino romances,

Agarrado à minha almofada.

Sou uma formiga no meio de elefantes,

Constantemente a ser pisada.

E tu não vens, e Eu enlouqueço,

Preciso tanto de ti,

Será que não te mereço?

Será que o bastante ainda não sofri?

Já não sei a que Deus peço,

Nem sei se só morrerei,

Pois já perdi o endereço

Da vida que vivi,

E agora lento envelheço

Num banho de dor sem ti

Que nem sei se És ou existes.

A rapariga dos meus sonhos.

Nunca te vi, nunca me viste!


06/07/1999  C: 10:43 h ; A: 11:00 h

Madrugando

Sentado aqui envolto em silêncio

Sou o único aluno neste estabelecimento,

Ainda é tão cedo! Tão cedo!

Mas isto era o que eu queria

Estar sozinho, longe de tudo

Perto da apatia.

E eis que chega o segundo aluno,

O meu grande amigo Cecilio.

É o dia, é o dia do exame de D.G.D.

E já não estou só, já alguém me vê.


Torres da Bela Vista E.S.S.A.C.

(banco das declarações) 25/06/1999 C:  8:00 h; A:  8:07 h

O valor da vida

De que vale tudo

Se não se é nada.

Que vale um canudo

Mais que a bagagem, que a mala

Que a vida nos pode dar.

De que vale ser rico

Se a felicidade está nas coisas simples.

De que vale esta cadeira onde me sento

E esta rua que observo

Se não me fazem feliz.

E de que vale a rima

Se me impede de dizer o que penso.

Mas sobretudo de que vale

O amor e o mundo

Se estou condenado a estas velhas paredes.

De que vale tudo!

De que vale tudo!

De que vale ser mau

Se isso nos torna piores.

Que vale esta guitarra que seguro

E não sei tocar.

Que vale tudo

Senão o saber que não vale nada!

Que ainda se pode viver de ilusões,

E saber o erro que se comete,

E admiti-lo perante todos.

E dizer não! Eu não!

Eu não parei de sonhar,

Eu continuo a viver,

Eu recuso-me a crescer.

E é esta a loucura

De me debater contra uma sociedade

Que sei não vai perder,

Mas que também não irá ganhar.

E se me fecharem,

Eu gostarei de estar fechado.

E se me torturarem,

Eu gostarei de ser torturado.

E se for infeliz,

Serei feliz nessa infelicidade,

Mas serei sempre Eu.

Embora possa não saber quem sou

Sei o que sou e que não vou mudar.

Podem-me tirar o tempo

O papel e a tinta,

Condenar meu pensamento,

Mas não me podem mudar.

Podem-me dobrar, partir em mil bocados,

Mas serei sempre Eu!

Até ao dia em que decidir mudar,

Pois sou livre.

E isso ninguém me pode tirar.


Odivelas

(varanda do nosso quarto)

11/05/1999 parte da tarde

Memórias

Já ninguém se lembra

Deste velho pecador,

Que montou a sua tenda

No império do terror.

Ninguém sente a sua falta

Ninguém vê a sua dor,

Mas é talvez este o preço

De ser um pecador.

A chuva já não me molha

Nem o sol me queima o corpo

Mas sinto tanta vergonha

Em ser quem sou: um “aborto”.

Oiço vozes ao longe,

Vozes que conheço,

Sinto-me como um monge,

Um animal, um adereço.

Enquanto a chuva cai

Vejo quem passa a correr,

Mas o meu caminho vai

Na velocidade de quem não quer saber.

Tenho a certeza de estar só

Numa imensa vastidão,

De mim não tenho dó,

Não pareço, sou um cabrão.

Não sei porque me desmoralizo,

Não sei porque não gosto de mim.

Mas sou um humano sem juízo

Que caminha lento para o fim.


01/04/1999  15:30 h

Ai de mim

Já à muito que caminhava nesta estrada,

Mas eis-me agora no final.

Tenho vários caminhos, mas uma só encruzilhada

A do bem e do mal.

Não sei se ei de lutar pelo que quero

Se seguir o coração

O canudo é difícil, não exagero.

E é tão mais fácil a não ambição.

O meu corpo está fraco e cansado,

A minha alma vazia e moribunda.

E se já não tenho força para trincar um rebuçado,

Como aguentarei os vindouros anos de tortura profunda.

Eu precisava de força e vida

Mas a força acabou e a vida adormeceu

E agora que começa a maior corrida

Que será de mim? Deus meu!


22/04/1999 C: 21:54 h ; A: 22:13 h

Sociofóbico

Tento mas não consigo.

A necessidade de estar só

É mais forte do que eu.

Estou numa pousada

Rodeado de amigos,

Vou ter com eles

Mas acabo de novo

Isolado no meu quarto.

É estúpido eu sei,

Mas também sei

Que nada sei.

Por isso vou ter com eles.


31/03/1999 Gerês 21:45 h

Adversidade

Olá ! Sou eu.

Mas isso já vocês sabem.

Cá estou eu de novo

Com um tema que já vocês sabem,

Mas trago algo de novo

Uma semente dentro de uma vagem.

Solidão é estar só.

Ninguém gosta de estar completamente só.

Eu não gosto,

Mas preciso.

E até aposto

Que já não tenho siso.

Eu até gosto de estar só,

Eu preciso de estar só.

Mas o que mais dói sem dó

É saber que ninguém me está a ligar.

Há! E já me esquecia

Da velha angustia existencial:

Estou farto da vida fria,

Vou-me matar num pedestal.

Pois é! Estou farto de Ser

Quem sou, previsível na escrita,

Do meu sangue vou beber,

À vida brindar a infinita.

Nunca tive grande contacto com os mortais,

Mas cada vez mais penso,

Que são um bando de animais.

E Eu tenho o corpo tão tenso

Que todas estas merdas parecem irreais.

No meu antro de pecado escrevo,

Tudo é tão feio,

Mas aos meus olhos tão ledo.

Ledo como Lídia, linda, limpa, pura

Lado ao lago, Lídia, Ricardo,

O Reis e o fado.

E Eu tão farto.

E Eu tão cansado.

Já nada tem nexo,

Nem a cama tem estrado,

Já não estou perplexo,

Estou frustrado.

Frustrado, cansado, tudo!

Tudo como sempre fui,

A unidade, o todo,

Um mar de sentimentos que em mim flui.

Mas tudo isto se esquece,

Quando o lembro ao escrever,

Pois tudo o que não é, o parece,

E a minha arte é parecer.

Já tudo em mim arrefece,

Já tudo arrefeceu.

O calor que agora me aquece

Foi o sangue que em mim ferveu:

A ignorância de todos,

O desprezo do mundo,

Os desejos doidos

Daquele poço sem fundo.

O que eu quero? Afecto!

O que desejo? Carinho!

O que preciso? Felicidade!

O que tenho? Quem sabe!

Feliz sou, tenho felicidade.

Afinal sou um poeta,

Porque tanta adversidade?! 


31/03/1999  Gerês 21:20 h

Confidente

Sinto-me um autentico Fernando pessoa

Todos me procuram para falar,

Ninguém me procura para amar.

Todos vêm em mim o Sérgio,

Mas esquecem que no fundo eu

Sou o Peccatore e tantos outros.

Sou uma espécie de ateu,

Rei do sentimento, coroa e louros.

Todos ficam boquiabertos

Pois compreendo tão bem seus sentimentos,

Mas no meio de todos os meus intelectos,

Estão inúmeros ferimentos.

Não percebo como toda a gente eu compreendo

E ninguém me compreende.

Mas Eu não posso ser único! Não entendo!

Não quero ser o único! Agora e sempre.

Só quero ser feliz e ter alguém,

Alguém com quem falar, falar ,falar…

Não! Se é só para “brincar”

Não! Não quero nada, ninguém.

Se é só para fornicar, nada, nada!

Só quero conversar, horas a fio conversar.

Mas este mundo já não é assim.

Não à nada, ninguém, só ar,

Não à  nada, ninguém que veja em mim

Eu próprio, só Eu sem mascara alguma.

Não à nada, nada

Para além de um nada absoluto.


31/03/1999  Gerês 01:04 h a.m. 

FIngimento ou realidade!

Feliz! Porquê?

Porque é que até

Nos momentos mais felizes

Estou sempre triste.

Porque é que um sorriso nunca é puro

E a minha alma sempre desiste.

Quero chorar, mas não consigo.

Insanidade esta que não desiste!

Porque é que eu me preocupo em escrever?

Não me apetece!

E porque é que só penso em morrer?

Não é por isso que a alma esquece!

E porquê o porquê?

Porque é que eu não aceito o que sou!?

Não sei. Não sei nada,

E nada quero saber,

Só sei que é uma estrada

E que eu ainda estou a crescer.

Mas estou a crescer cansado,

Cansado de tudo o que me rodeia,

Apático, revoltado, enigmático, chateado.

Tudo. Todos os sentimentos imaginários

Vivem dentro de mim em todos os segundos,

Porque sou assim?

E porquê outra vez o porquê?

Estou tão farto de mim,

De tudo! Tudo! Cansado.

Pura e simplesmente cansado.

Tudo dentro de mim está inverso,

Mas nada esta inverso porque sou tudo,

E é talvez por isso que pareço

Um tanto ou quanto maluco.

Maluco na esperança

De esperar a perfeição

Em tudo o que acontece

Num vagabundo coração.

E é assim nesta corrida para a frente

Que sou o mais rápido

A correr para trás.

E é talvez por existir tanta gente

Que aqui o Sérgio já não sabe o que faz,

O que diz ou medita,

Mas talvez seja isso

Que torna a vida mais bonita.

Uma seca é para voz,

Todos os que lêem os meus poemas,

Pois os temas são sempre país e avós

Da dor, solidão, insanidade, e coisas terrenas.

E é por isso que hoje vou ser diferente!

Como é belo viver! Os campos, os prados,

Tudo é tão belo e natural.

O amor, o cheiro das flores.

O canto de um pardal;

Tudo é tão belo

Tão belo e natural.

Quão feliz é o som da água a correr,

A harmonia dos montes que se seguem.

Mas o melhor. O melhor

São as coisas que todos conhecem,

Aquilo a que todos se referem!


30/03/1999 Terras do Bouro 21:30 h

Inadaptado

Tudo o que dói

Na insanidade

De ser são.

É não ter idade

E alimentar-me do vosso pão.

Orientar as minhas regras

Segundo as vossas,

Viver no meio de pedras,

Ideológicas fossas.

Não sou eu que não me adapto à sociedade,

Ela é que não se adapta a mim

Vivo num país que ninguém conhece,

Com uma vida também assim.

O meu verso é marginal e padece,

De quem o ame e compreenda.

Este é um poema

Que em qualquer local se pode ler.

Mas se eu gritar: Foda-se!!!

Já ninguém o vai querer.

E é por isso que eu digo:

• não deixem de ler

• sigam  o vosso coração

Não o deixem morrer.

Eu luto contra os tabus

De uma sociedade que não sebe viver.

O meu coração é a poesia,

E esta estou-a a escrever

Desde que começou uma das minhas aulas.

E é por isso que eu dizia,

Segue o teu coração, e não a maresia.


16/03/1999 C: 8:30 h; A: 9:20 h

Ânsia

Que sede brutal é esta que desperta em mim,

Que ânsia de viver,

Que ânsia de morrer.

O quê, o que é isto que me ataca as vísceras,

O que desperta tudo em mim

O que é, o que é isto.

A grande necessidade de sofrer, o absurdo.

Tudo, tudo é tão confuso, e…

Tudo, tudo tão nítido.

O meu ser, aquele que habita este corpo que sinto

Vive, existe, e é brutal,

É brutal toda esta força em si contida.

É brutal, é brutal a vida.


24/05/1999  9.27 h

Tempo!

Se eu tivesse um pouco mais de tempo,

Um espaço para mim,

Para por as ideias em dia.

Mas não esta vida não é assim,

Tudo passa numa imensa correia,

Se parar, se não corro,

Então é mais que certo: morro.

Se eu fosse como os outros,

Se eu fosse um animal,

De ouvidos e olhos moucos.

Mas não, não sou!

E não aguento correr mais,

Mas não quero estar onde estou,

Então tenho que me ir embora

E tenho que me mover,

Mas não! Não quero correr.

Não quero estudar, trabalhar! Nada.

Só queria poder escrever. Escrever sem fim.

Mas numa escrita universal,

Para que todos compreendessem; assim; assim.

Perto da vida, longe do fim.


26/05/1999 C: 9.39 h;  A: 9:52 h

Fragilidade de viver

Desilusão! Tudo me desilude.

Não! Tudo eu desiludo.

Queriam-me, meus pais

Bom aluno e pessoa.

Mas fez-me o mundo,

Um som que não soa,

Um fundo sem fundo,

A cor que destoa.

Olho minhas mãos

O sangue que corre em suas veias,

No entanto, paradas estão,

Tal como todas as minhas ideias.

Tenho planos e vontades

É certo.

Mas meu corpo inerte ás adversidades

Tão longe; tão perto.

Tenho sede, e um copo na mão,

Mas não o consigo erguer,

E se ninguém me ajuda então,

De sede vou morrer.

Escreve. Escrevo nesta sala,

Tenho à frente uma professora que fala

Mas não me apercebo do que diz.

A minha cabeça não manda

E o coração faz-me infeliz.

Devia escolher algo, um caminho,

Mas desejo ser tudo,

E dou em louco sem ser nada.

Devia forjar o meu futuro,

Mas gasto o tempo a sonhar.

Eu queria ser um duro

Mas a minha existência não é estar.

Todos vivem estando,

Condicionados por um sobreviver.

Eu posso passar fome,

Mas descubro o Meu ser.

Posso morrer infeliz,

Desiludir todos os que me amam.

Mas fiz o que quis,

Rebentei com as regras que vos enganam,

E sou agora a angustia

De não Ser.

Descobri a fragilidade.

A fragilidade de viver!   


26/05/1999 C: 10:53 h; A: 11:25 h

Não sei

Penso.

E porque penso tanto,

Não presto atenção a nada,

A tudo, só canto.

Penso, e penso tanto.

Porque os outros não pensão?

Como prestam eles atenção?

Como conseguem concentrar-se

E eu não?

Não entendo nada, tudo.

Vivo numa estrada, mudo,

Sem voz, ninguém

Atroz, também.

Não sou, não sei.

Não quero, não dei.

Não!! Estou farto.

Quero dormir na cidade

Se não posso trabalhar no campo,

Estou farto desta ansiedade,

De caminhar para o pranto.

Já não sei em que acredito,

Se no que sei,

Se no que medito.

O que medito é meu e sei-o

O que sei, não o sei

Pois foi meditado por alguém.

Mas se sei o que medito

E não sei o que sei,

Então não sei nada,

E sei-o bem.

Talvez não vivi, e calei.

Ou talvez vivi, e gritei.

Já não sei.

Não sei.


22/03/1999

Cansaço

Que cansaço este

Me faz chorar.

Dor incessante

Que parece não doer.

Alucinação vertiginante

Que insiste em não morrer.

Quem? Quem? O quê?

Onde? Onde estou?

Eu sei. Mas tenho medo de descobrir.

Tudo me dói,

Quero, só dormir!

Dormir um ano, dois,

E acordar num estábulo de bois

Não sei? Não. Já não!

Já não sei o que quero ao certo,

Tudo é tão fero

Neste mundo tão incerto.

Nada me preocupa senão escrever.

Não! Não me venham com estéticas

Ou ciências. Só quero saber das dialécticas

E das vivências.

Ou talvez não.

Não sei.

A aparência não interessa,

Mas interessa tanto.

A vida é um mar

E o mar um pranto.

Tudo o que eu queria

É tudo quanto

Tu anseias. Ser feliz,

Ter um manto.


22/04/1999 C: 8:40 h; A: 9:00 h

Dormir

Sinto-me triste,

Mas não choroso

Apenas nostálgico.

Olho para mim e vejo um idoso

Tão cansado da sua vida,

Implorando apenas por repouso.

Os meus olhos cerram-se,

A minha mente pesa.

E dói,. Dói! Corta-se.

Não!! Nada!! Tudo.

Estou farto!!!!!!!!

Dói tanto, dói mudo.

Quero dormir, descansar.

Tenho sono, tanto sono.

Estou tão cansado de andar.

Quero dormir, parar, descansar,

Sentir o silencio.

Sim o silencio, o sono.

Arde-me a vista com a luz,

O fervor do sol da cidade.

Quero aquela que me seduz,

A noite. Minha pérola de jade

Estou tão cansado, tenho tanto sono,

Dói tanto, quero descansar.

Estou tão farto,

Farto de te procurar.

Mas tu foges de mim: felicidade,

Ou fugirei eu de ti. Quem sabe?

Mas já não tenho mais força,

É noite agora e isso é certo,

Tenho á minha espera uma moça

Que me vai embalar, pegar bem perto,

E sussurrar: descansa, descansa em paz

Pois eu protejo-te, e meu manto é teu tecto.

Agora vou dormir e isso sim é certo.


07/02/1999