As minhas férias em pombal,
Não sei se vale a pena relatar.
Da lembrança caras tristes,
Olhos quase a chorar.
Férias boas se previam,
Outras se vieram a revelar,
Pois meu avô, com suas manias,
Deixou-nos todos a odiar.
Quem não sabe não acredita,
Quem sabe não quer acreditar,
As manias são tantas,
Que pelos dedos não dão para contar.
Ainda à pouco estava tão bem,
Agora já está a resmungar,
Finge-se de doente, mas nós,
Já nem estamos para nos chatear.
Vendo-se desprezado, saiu porta fora,
Deitou-se no chão,
E começou a estrebuchar.
Meu pai foi ter com ele,
Para o tentar ajudar.
Mas a grunhir de olhos fechados,
Não lhe deixava ninguém tocar.
Meu velhote virou costas,
Para alguém ir chamar,
Logo após abriu os olhos e deixou de berrar.
Quando ele voltou, começou a chiadeira,
Dali ninguém o tirou até chegar a ambulância.
Ao hospital rumo foi, a Pombal lá chegou,
Ás urgências foi parar e por lá ficou.
Os médicos examinaram-no, e nada detectaram.
Duas garrafas de soro, e já andava bom.
Quando para lá o ir buscar nos chamaram,
Então tudo recomeçou .
Médicos e enfermeiros, doentes e tratados,
Todos de boca aberta,
Ficaram muito espantados,
Um homem que andava a correr hospital fora,
Já nem nas pernas se segurava,
Viu a família, e já ele,
Por todos os lados se desequilibrava.
Ninguém o tirava dali, e a médica já farta,
Disse que o internava,
Mas depois de algum tempo,
O meu pai convenceu-o a vir para casa.
O enfermeiro chamou-os a um canto,
Disse que ele precisava era de um psiquiatra,
Ó ! Está bem mas quem é que lá o levava.
Até ao carro teve de vir de cadeira de rodas,
Caminho todo a grunhir.
Cá no fundo deixou boas mossas.
Chegado a casa, na sua cadeira foi-se sentar.
A minha velhota perguntou-lhe se queria ceia,
Mas apenas um grunhido, a libertar se dignou.
Perguntando com paciência, uma resposta obteu,
Leite e pão por excelência, minha mãe lhe preparou.
Um homem que toda a vida assim tem vivido,
Muitos amigos tem perdido,
Mas ele não quer saber,
Pois ainda tem quem lhe de abrigo.
No meio de tudo isto,
Minha avó é quem tem maior castigo,
Sofre feito doida, e dele, nem uma palavra de amigo.
Na vida não é justo, carregar a nossa cruz.
Mas carregar com a dos outros
É como viver sem luz, não vivermos para nós
É viver em solidão, o destino mais atroz,
De quem a vida é uma prisão.
12:12 30/08/1997 Cardeais
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