sexta-feira, 11 de julho de 2008

Prisão

As minhas férias em pombal,

Não sei se vale a pena relatar.

Da lembrança caras tristes,

Olhos quase a chorar.

Férias boas se previam,

Outras se vieram a revelar,

Pois meu avô, com suas manias,

Deixou-nos todos a odiar.

Quem não sabe não acredita,

Quem sabe não quer acreditar,

As manias são tantas,

Que pelos dedos não dão para contar.

Ainda à pouco estava tão bem,

Agora já está a resmungar,

Finge-se de doente, mas nós,

Já nem estamos para nos chatear.

Vendo-se desprezado, saiu porta fora,

Deitou-se no chão,

E começou a estrebuchar.

Meu pai foi ter com ele,

Para o tentar ajudar.

Mas a grunhir de olhos fechados,

Não lhe deixava ninguém tocar.

Meu velhote virou costas,

Para alguém ir chamar,

Logo após abriu os olhos e deixou de berrar.

Quando ele voltou, começou a chiadeira,

Dali ninguém o tirou até chegar a ambulância.

Ao hospital rumo foi, a Pombal lá chegou,

Ás urgências foi parar e por lá ficou.

Os médicos examinaram-no, e nada detectaram.

Duas garrafas de soro, e já andava bom.

Quando para lá o ir buscar nos chamaram,

Então tudo recomeçou .

Médicos e enfermeiros, doentes e tratados,

Todos de boca aberta,

Ficaram muito espantados,

Um homem que andava a correr hospital fora,

Já nem nas pernas se segurava,

Viu a família, e já ele,

Por todos os lados se desequilibrava.

Ninguém o tirava dali, e a médica já farta,

Disse que o internava,

Mas depois de algum tempo,

O meu pai convenceu-o a vir para casa.

O enfermeiro chamou-os a um canto,

Disse que ele precisava era de um psiquiatra,

Ó ! Está bem mas quem é que lá o levava.

Até ao carro teve de vir de cadeira de rodas,

Caminho todo a grunhir.

Cá no fundo deixou boas mossas.

Chegado a casa, na sua cadeira foi-se sentar.

A minha velhota perguntou-lhe se queria ceia,

Mas apenas um grunhido, a libertar se dignou.

Perguntando com paciência, uma resposta obteu,

Leite e pão por excelência, minha mãe lhe preparou.

Um homem que toda a vida assim tem vivido,

Muitos amigos tem perdido,

Mas ele não quer saber,

Pois ainda tem quem lhe de abrigo.

No meio de tudo isto,

Minha avó é quem tem maior castigo,

Sofre feito doida, e dele, nem uma palavra de amigo.

Na vida não é justo, carregar a nossa cruz.

Mas carregar com a dos outros

É como viver sem luz, não vivermos para nós

É viver em solidão, o destino mais atroz,

De quem a vida é uma prisão.


12:12  30/08/1997 Cardeais

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