segunda-feira, 14 de julho de 2008

Espiral

Sinto uma caneta nas mãos

E um mar de linhas azuis frente a mim

Enfrento esta frenética vertigem

Que caminha sem retrocesso para o fim.

Sou um botão de rosa, branco, fechado

Que o mundo insiste em abrir.

Sou um botão de rosa, branco, esmagado

Que o mundo de preto o quer tingir.

Estou frente a uma sociedade

Que me tenta engolir

No seu jogo rotineiro

De fugir, correr fugir.

Caminhamos para a morte

E isso é mais que certo.

Todos nos temos a mesma sorte,

E o fim da terra está tão perto.

Se o sol é uma estrela

Essa estrela morrerá ,

E com a sua explosão

A terra desintegrara.

Então porque vos preocupeis

Em ser famosos e ricos,

Se não levais papeis nem títulos.

Porque tendeis em gravar vosso nome na historia,

Se um dia dela deixará de haver memória.

E mesmo que a raça humana

Venha a colonizar outra galáxia,

Quem é que se vai querer saber desta velha terra mundana.

Esse planeta primitivo, essa vitória de Samotracia.

E eu que só queria ser feliz

Vejo-me agora agarrado

A um passado infeliz,

Um presente que repudio

Um futuro que nada me diz.

Preso nas malhas das vossa leis,

Sendo obrigado a pensar e escrever

Com as palavras que me ensinasteis,

Preso ás doutrinas,

E no seu mais âmago ser

Cheio de guerras e chacinas.

Alguém que vê o mundo como lhe foi ensinado,

Com os nomes que vocês lhe deram.

Alguém que exprime a sua raiva e afecto

Com o esquema verbal que lhe impuseram.

Alguém que não pode pensar, sem associar um objecto

Ao nome que vocês dizem ser o correcto.

É triste ter que viver  sob a vossa dita.

Mas ter que pensar através delas

É a maior angustia de um ser que reflicta.


02/03/1999 C: 22:00 h; A: 23:00 h

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