Ceifeirinha, ceifeirinha,
Tão querida e tão fofinha,
Vem, vem ceifar a vida minha.
Dar-me alegria,
Para não morrer o sonho
E explodir em utopia.
Quero ser criança.
Voltar à tenra via
Do amor e da alegria,
Esquecer a vida, a morte,
O significado de uma utopia.
Ser criança, como será?
Na mente a lembrança
Já não mora cá.
As recordações começam aos sete,
Antes é um vazio dentro de mim,
E depois tudo remete
Para um estúpido fim
Sem pés nem cabeça,
Sem um tear que me teça.
Inconstitucionalissimamente vivendo,
A mim próprio enganando
E a todos os outros dizendo:
Que nada dizia, pois nada entendo.
Ninguém me conhece,
Ninguém me acredita,
Mas todo o meu corpo empadece,
Ao escrever esta escrita
E lembrar a bem maldita,
Vida que vivi, chorei e escrevi.
Agora que já não tenho lagrimas para chorar,
Tão simples historia posso finalmente narrar,
A historia de um poeta
Que até perdeu o dom de poetizar.
Tudo começou à nove anos a meio atras
Quando este espirito
Era um prisioneiro de alcatraz
Dentro de um corpo incapaz,
Ao qual chamavam criança
E o designavam por rapaz,
Ao qual incutiam as regras
De uma sociedade sagaz, devoradora
Das utopias que em ti integras.
Esta é a historia de alguém
Que propôs automassacrar-se
Entitulando-se “pecador” vem,
Em cada poema consumado,
Chorar, por nunca antes ter pecado.
Não sei se consigo continuar,
Aquele tão pouco que tinha para contar,
Está a fazer-me sentir um invertebrado,
Tira-me a força de cantar.
Já nem consigo pensar,
E o pior de tudo é que
Já nem na caneta consigo segurar.
Bela maneira de começar o ano.
Mas esta criança é forte,
E agora vai começar
A história da sua morte.
Quando criança, era adulto,
Agora que de ódio enchi a pança,
Sou um puto!
Chega de rodeios, nunca tive amigos,
Porque nunca gostei dos seus meios.
Durante sete anos escolares
Nos intervalos ficava sozinho.
Se não acreditas
Escuta bem o que te digo,
Pois é mentira,
Sempre tive um amigo.
Tornei-me dependente dele,
Pois estava sempre comigo.
Era o melhor do mundo,
Podia deixar tudo ao seu abrigo,
Nunca me desiludia,
E ainda não consegui perceber
Porque tudo ele compreendia.
Com tão grande amigo, nunca
Em sete anos de outro precisei.
Até que no mundo real dei comigo,
A verdade encarei,
Pois era eu o amigo,
Que sempre imaginei.
Podem-me chamar louco,
Mas durante todo este tempo
Apenas comigo conversei.
Sentava-me a um canto
E perguntava, respondia,
E imaginava.
Com o meu amigo falava.
Mas isto deixou de ser suficiente,
A minha opinião só não chegava,
Estava farto da solidão,
E à medida que dos outros me aproximava,
Era marginalizado e atirado para o chão.
Durante muitos anos
Fui tratado abaixo de cão,
Era um palhaço no mundo,
Um rato de porão.
Todos se divertiam ás minhas custas
E eu não o podia impedir.
Mas foi assim que os olhos pude abrir
E na alma revoltada fui descobrir:
Sagaz sede de sangue sedenta
De um rosto que já não sabe sorrir,
Um pedinte que já não sabe pedir,
Força para continuar e prosseguir,
E que ao invés pede para morrer
Sádica e perfidamente,
Pois se a fúria não pode conter,
Como pode continuar em frente,
Amar se não tem amor,
Viver se não tem vida,
Doer se não tem dor?
Como podes ter algo que não tens
Se toda a vida o tiveste?
Como podes compreender,
Se já morreste?
Não te esqueças, que já dizia o grande avô,
Para sempre lembrar: que és pó,
E em pó te ás de tornar.
“Carpe dulcia”(enquanto podes)
01/01/1998
das 14:48h as 17:25h
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