segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ferro e carne

Sentado num jardim da 24 de julho,

À torreira do Sol

Num banco de madeira,

Vejo ferro e carne

E lembro-me dela, da ceifeira.

Que aconteceria se ela

Ceifasse a vida a toda a carne?

Coisa tão bela,

E ao mesmo tempo sem charme.

Imaginem toda esta azafama

Reduzida ao zero,

Seria tudo tão belo

E ao mesmo tempo tão fero!

Que curta espera é esta

Que parece tão longa,

Comprida como uma festa

Curta como uma pomba.

Que mundo é este que vejo

E coisas estas que sinto,

Penso saber o que ensejo

Temo saber que minto.

Quem me vê dá-me um beijo,

Quem me olha, lê-me a alma.

Se eu soubesse o porquê do desejo,

Se soubesse porque ele não se acalma.

Vejo ferro, vejo carne.

Vejo fogo, vejo alma.

Sinto a presença do ausente,

Desejava não haver gente

E não ter que o desejar,

Pois sou frio por for a

Mas por dentro quente.

Vejo miséria, talvez,

Talvez como nunca a vi

Com estes olhos que tenho hoje.

Quem sabe quem serei amanhã!

Quem sabe se em vida virá o dia

Em que deixarei de escrever,

Ou quem sabe até já fria

Não se deixe morrer.

Não sei nada e nada saberei

Enquanto procurar o saber!


7/10/1999 Cais do Sodré C:15:00 h; A: 16:00 h

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