Sentado num jardim da 24 de julho,
À torreira do Sol
Num banco de madeira,
Vejo ferro e carne
E lembro-me dela, da ceifeira.
Que aconteceria se ela
Ceifasse a vida a toda a carne?
Coisa tão bela,
E ao mesmo tempo sem charme.
Imaginem toda esta azafama
Reduzida ao zero,
Seria tudo tão belo
E ao mesmo tempo tão fero!
Que curta espera é esta
Que parece tão longa,
Comprida como uma festa
Curta como uma pomba.
Que mundo é este que vejo
E coisas estas que sinto,
Penso saber o que ensejo
Temo saber que minto.
Quem me vê dá-me um beijo,
Quem me olha, lê-me a alma.
Se eu soubesse o porquê do desejo,
Se soubesse porque ele não se acalma.
Vejo ferro, vejo carne.
Vejo fogo, vejo alma.
Sinto a presença do ausente,
Desejava não haver gente
E não ter que o desejar,
Pois sou frio por for a
Mas por dentro quente.
Vejo miséria, talvez,
Talvez como nunca a vi
Com estes olhos que tenho hoje.
Quem sabe quem serei amanhã!
Quem sabe se em vida virá o dia
Em que deixarei de escrever,
Ou quem sabe até já fria
Não se deixe morrer.
Não sei nada e nada saberei
Enquanto procurar o saber!
7/10/1999 Cais do Sodré C:15:00 h; A: 16:00 h
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